Desde quando as construções nas cidades da Região Serrana do Rio de Janeiro não são em encostas?
Foto Jornal O Dia
Nada é mais desagradável do que assistir a um governador da espécie ‘ladrão de porco” (já explico lá no final o que é isso), dissimuladamente e na maior cara de pau jogar a responsabilidade pela tragédia das chuvas na Região Serrana em quem construiu nas encostas. Desse modo, Sérgio Cabral Filho quis dizer “bem-feito” para os que morreram ou perderam tudo, mas não teve a dignidade de admitir e assumir a sua culpa.
Políticos são assim, sentem-se extremamente poderosos, acham até que não morrem, são imortais. Será que é preciso ocorrer com Cabral o choque que Antonio Carlos Magalhães levou quando o jovem e promissor filho Luiz Eduardo morreu, assim, do nada? A dor fez Toninho Malvadeza, como era conhecido, ficar mais humano e trouxe muitos políticos à realidade de que poderiam desencarnar num piscar de olhos também.
Sérgio Cabral só abre a boca pra ofender e enganar. Nada traduz ternura e segurança na sua fala acerca da calamidade, só irritação e desconfiança de quem, como eu que não estou na folha de pagamento dele, exige melhores explicações. E culpa os pobres-coitados dos prefeitos pelo caos, como se as prefeituras não ficassem no Estado.
Vamos começar pelo começo:
No domingo 9/01/11, foram emitidos alertas meteorológicos para autoridades do Governo do Estado e Prefeituras para riscos de chuvas torrenciais, superiores a 200mm (choveu mais de 300). Tal alerta é dado por telefone celular a pessoas devidamente autorizadas, inclusive o Chefe da Defesa Civil do Estado, Secretário de Saúde Sérgio Cortês, que estava lá com sua cara de bobo. Nada fizeram para alertar a população das áreas de risco para que buscassem abrigo, como fez a Prefeitura de Areal, com um carro de alto-falante. Deu no que deu.
Agora discutem que não receberam aviso, apesar do site do climatempo estar permanentemente no ar, alertando. Mas isso se esclarecerá pela conta dos telefones, é fácil, se houver interesse de responsabilizar os responsáveis.
Não houve nenhuma estratégia de atuação, comando, nada. Já na segunda-feira, famílias queriam deixar as
Moradora caminha sobre a lama que cobriu a rua (foto O Dia de hoje)
áreas, mas de quê? Para onde? Restou torcer para a chuva parar. Novamente na segunda-feira, alertas meteorologicos desesperados foram emitidos, quando o solo já estava por demais ofendido, encharcado. A remoção teria que ser imediata. Nada, nada foi feito. E horas depois, a enxurrada produziu o som da morte e destruição, que podia ser ouvido a quilômetros de distância. Morte barulhenta, que certamente se confundiu com a explosão de transformadores de energia. explodindo.
E não morreram apenas os que estão sendo recolhidos. Há centenas de corpos soterrados e que jamais serão resgatados
Como culpar os pobres e as prefeituras se a enxurrada levou pontes e mais pontes, derreteu estradas, abrindo fendas enormes, se a responsabilidade sobre esse tipo de edificação é do Estado?. Do mesmo Estado que consentiu na cobrança de pedágio em rodovias sem saída, sem segurança, que ligavam o nada a lugar nenhum, como a RJ 116. Não é inexplicável a omissão de Sérgio Cabral (e porque não dizer da própria Presidente Dilma?), é visivel e intrigante.
Sem comando, a operação do Estado mobilizou tropas de outros lugares, como Macaé, Campos, Rio, Niterói e Baixada. Da Capital vieram os melhores, que na zona de operação se revelaram uns trapalhões, especialmente os da Comlurb e Defesa Civil. Desinformados, acabaram reforçando boatos absurdos, como o de que uma represa arrebentou e, em forma de tsunami, vinha destruindo tudo. Vendo que carros da Defesa Civil do Prefeito Eduardo Paes também fugiam e alertavam para a morte iminente, o povo entrou em pânico. Idosos imploravam aos filhos que os deixassem morrer na rua, mas que salvassem suas vidas, buscassem abrigos. Meu trabalho foi confortar os que não podiam correr e dizer que seria impossível a tsunami da represa lá embaixo chegar a Nova Friburgo. Não deu outra.
Tomara que agora sirva de lição, pois das outras vezes não vezes nem fez cosquinha na reputação do Governador, tanto que se reelegeu com 66% dos votos da população para a qual agora vira as costas.
*Ladrão de Porco é uma expressão cunhada a partir de uma piada do humorista Juca Chaves, acerca do homem que roubou um bacuri enfiou por baixo da jaqueta que vestia. Ao ser revistado pela polícia, o homem se apavorou e demonstrando surpresa e espanto, implorava aos policiais para que o ajudassem a tirar aquele bicho dali, como se o porco tivesse entrado em sua jaqueta por vontade própria.