Acabou-se o que era doce: a paz e tranquilidade dão lugar ao medo e desengano
Moradores do Residencial Fazendinha, no Cafubá, que sofrem com as obras da Transoceanica e dos tuneis para Charitas, estão se mobilizando para enfrentar “um futuro sombrio e incerto” quando a obra estiver concluída. Reunidos na AABB, os integrantes do projeto “Vizinho Solidário” aprovaram um elenco de prioridades que precisam ser solucionadas.
Para se ter uma idéia da falta de respeito cm os moradores, as explosões para abertura dos túneis chegaram a ocorrer mais de 20 vezes por dia, indo até às 23h30min, com movimento constante de caminhões pelas ruas do condomínio. Hoje, as detonações estão reduzidas a apenas uma por dia.
– Fui reclamar e o engenheiro me disse que lei do silêncio não existe. É assim que nos tratam – queixou a moradora Ilza Barbosa, uma das líderes do movimento.
Uma coisa ficou evidente na reunião do Vizinho Solidário: a união dos moradores. Mesmo desprezados pela diretoria da Associação de Moradores da Fazendinha – AMAF- e pelo Comitê de Obras criado para representar a comunidade junto às construturas e Prefeitura, os vizinhos solidários não desistiram. Soltaram manifestos reclamando providencias, fizeram romarias nos órgãos públicos, passaram por constrangimentos e dissabores, mas não desistiam. O resultado é animador: mais de 120 famílias estão cadastradas e atuantes por meio de WhatsApp.
Na reunião de quinta-feira (28/4), os vizinhos aprovaram um Termo de Compromisso que servirá de base para um Termo de Ajustamento de Conduta – TAC – a ser proposto ao Ministério Público. Dentre as prioridades formuladas está a instalação de uma cabine da Policia Militar ou Guarda Municipal nas proximidades do tunel. Além de dar segurança aos moradores também evitariam a ocupação desordenada, que se articula no Morro do Preventório.
SITIANTES QUEREM PROTEÇÃO E RESPEITO
Também estiveram presentes à reunião parentes dos mais antigos moradores do lugar, conhecidos por Sebastião e Sabará, além de dona Maria das Graças, legítima proprietária de terras no entorno dos túneis. Marisa Sabará explicou que não existem ocupações novas, apenas as moradias dos patriarcas, seus filhos e netos que ali se estabeleceram.
– Eu comprei minhas terras, paguei por elas e ainda não fui procurada ara receber indenização para a abertura da estrada e dos túneis – protestou dona Mara das Graça, que obteve o apoio do movimento. “Eles são nossos vizinhos e merecem toda nossa consideração e apoio”, disse Larissa Viot, outra líder do movimento.
Os sitiantes denunciaram que bandidos armados são vistos com frequência descendo do Preventório através de trilhas abertas na mata. Moradores que faziam footing na mata chegaram a ser ameaçados por bandos armados. O receio de todos é que a ameaça de ocupação do entorno dos tuneis seja apoiada por traficantes do Preventório. Por enquanto, os próprios moradores estão vigilantes para impedir a favelização.
Na próxima quinta-feira, os vizinhos solidários voltarão a se reunir na AABB, esperando contar com a presença da direção da AMAF e do Comité das Obras, instituído por decisão de Audiencia Pública.